sexta-feira, 13 de maio de 2011

Crase

Eis um assunto que para muitos é um bicho de sete cabeças. Mas não é assim tão difícil de entender.

Existem muitas formas de contração na língua portuguesa, que é a junção de uma preposição com uma palavra (que pode ser um artigo, um advérbio, um pronome). Exemplos:

Aonde = preposição a + advérbio onde
Ao = preposição a + artigo definido o
Num = preposição em + artigo indefinido um
Da = preposição de + artigo definido a
Deste = preposição de + pronome demonstrativo este
Naquela = preposição em + pronome demonstrativo aquela

A crase (à) é a junção da preposição “a” com o artigo definido feminino “a”, ou ainda com a inicial dos pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo. Sendo assim, não pode ocorrer antes de palavras masculinas, nem antes de verbos e nem de pronomes pessoais (a ela, a mim). A crase é representada pelo acento grave (`), assinalado no sentido contrário do acento agudo. Assim, não existe “á”, como algumas pessoas costumam grafar.

Se houver dúvida quanto a empregar ou não a crase, uma dica é substituir a palavra feminina por uma masculina. Se for possível ocorrer a junção “ao”, então vale a crase antes da palavra feminina. Por exemplo, se falamos “ao meio-dia”, então ocorrerá a crase antes de meia-noite (à meia-noite). Ou, se falamos “Fui ao Rio de Janeiro”, é correto escrever “Fui à Bahia”.

Também se usa a crase quando está implícita ou explícita a palavra “moda”, por exemplo: à (moda) milanesa, à moda italiana, à (moda) Luís XV, e ainda em locuções como: às vezes, à medida que, à revelia, à vontade, à beça, à risca, à noite, à tarde. Além disso, emprega-se crase também antes de horas: às duas da tarde, à uma da manhã, à zero hora (perceba que antes de “uma” e “zero” só ocorre a crase quando se trata de horas, pois antes de números cardinais não se emprega crase, exemplo: daqui a uma década).

Não use a crase antes de:

- nomes de cidades: Fui a Belo Horizonte. / Voltei a Roma.
- palavras masculinas: Comprei a prazo. / Voltei a pé. / Andei a cavalo.
- verbos: As aulas começam a partir de janeiro. / Fiquei a pensar nele.
- pronomes pessoais, indefinidos, demonstrativos (exceto na terceira pessoa), de tratamento e relativos: Dei a ele um presente. / Quero bem a todos. / Eu me refiro a isso, e não àquilo. / Agradeço a Vossa Senhoria. / Louvemos a Deus. / A quem pertence isso?
- nomes de mulheres consideradas célebres: Esta obra faz referência a Joana d’Arc.

E também:

Diante da palavra casa, quando não especificada: Regressei a casa. / Fui a casa. Mas, quando especificada, use a crase: Fui à casa dos meus avós. / Vou à casa de João.

Em palavras que se repetem: passo a passo, gota a gota, dia a dia.

Diante da palavra “terra”, quando significar “terra firme”: Depois de três dias em alto-mar, voltamos a terra. Ou quando estiver especificada: Viajei à terra de meus pais. Mas se referindo ao planeta: Os astronautas regressaram à Terra.

Uso facultativo:

Antes de pronomes possessivos femininos: Levei um presente à(a) minha amiga, porque tanto se pode dizer “a minha amiga” como “minha amiga” (com ou sem artigo).
Antes de nomes femininos não célebres: Levei um presente à(a) Raquel, porque tanto se pode dizer “a Raquel” quanto apenas “Raquel” (com ou sem artigo).

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dar à luz um filho ou a um filho?

Aproveitando a época natalina, a liturgia do Advento traz a profecia da vinda do Salvador: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e ele será chamado Emanuel” (Is 7,14). Mas muitos insistem em dizer “dará à luz a um filho”. Ora, essa construção não tem sentido, já que falta o objeto direto, que seria “um filho”, sem a preposição “a”. Lembre-se: dar algo a alguém. Note que a preposição “a” está relacionada ao objeto indireto (no caso, à luz), e não ao direto (no caso, um filho). Para ficar mais claro, basta escrever na ordem simples: “dará um filho à luz”. O que a mãe dá não é a luz ao filho, mas o filho à luz, ou seja, ela dá à claridade da vida e do mundo exterior aquele ser que vivia no ventre materno.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Em vez de x ao invés de

Parece que hoje em dia as pessoas se esqueceram da expressão “em vez de” e usam apenas “ao invés de”, como se fossem sinônimas. Mas não são.
Invés significa “contrário”, “avesso”. Assim, “ao invés de” só será usado quando o sentido for “ao contrário de”. Nos demais casos, é mais adequado usar “em vez de”.

Exemplos:
- Ao invés de abrir a janela, fechou-a.
- Vire à esquerda ao invés da direita.
- Faça sua parte, em vez de ficar reclamando!
- Ao invés de se alegrar com a notícia, ela chorou de tristeza.
- Em vez de telefonar, resolvi lhe enviar uma carta.
- Fomos ao parque em vez de irmos ao shopping.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Onde x aonde

ONDE = lugar em que / em que (lugar). Indica permanência, o lugar em que se está ou em que acontece algo. Complementa verbos que pedem a preposição em.
Onde você estava? – Em casa. (estar em algum lugar)
A empresa onde ele trabalhava faliu. (trabalhar em algum lugar)
Não sei onde fica essa praça. – Essa praça fica no centro da cidade. (ficar em algum lugar)

Atenção: é comum o uso inadequado de “onde” em expressões que não indicam lugar físico. Por exemplo: “O relatório onde consta meu nome está desatualizado.” (uso correto = em que, pois relatório é um objeto, não lugar). “Houve um tempo onde eu dançava toda noite.” (uso correto = em que, pois tempo não é lugar).


AONDE = a que lugar. É a junção da preposição a + onde. Indica movimento (para/a algum lugar). Usa-se com verbos que pedem a preposição a.
Aonde você quer chegar? (chegar a algum lugar)
Você sabe aonde/para onde eles foram? (ir a/para algum lugar)
Faz dois dias que saí do hospital, aonde deverei voltar na semana que vem. (voltar a/para algum lugar)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Curiosidade: palíndromo

Palíndromo é uma palavra, frase ou verso que podem ser lidos da mesma maneira, tanto da esquerda para a direita como da direita para a esquerda. Por exemplo: ovo, osso, radar.
Seguem alguns bons palíndromos:

Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.
Anotaram a data da maratona.
A mala nada na lama.
O galo ama o lago.
Saíram o tio e oito Marias.
A torre da derrota.
Assim a aia ia à missa.
O mito é ele, Pelé é ótimo.


Alguém consegue construir um?

Seção, sessão e cessão

Essas três palavrinhas são homônimas homofónas ou imperfeitas, isto é, têm a mesma pronúncia, mas significados distintos. Veja a diferença entre elas:

SEÇÃO
Significa repartição, divisão.
- O refrigerador é vendido na seção de eletrodomésticos.
- Ele trabalha na seção de artigos esportivos de uma grande loja.


SESSÃO
É o tempo durante o qual se realiza uma atividade específica (uma reunião, um espetáculo etc.).
- Não assistimos ao filme porque perdemos a sessão das oito.
- Amanhã farei a primeira sessão de fisioterapia.


CESSÃO
É o ato de ceder.
- cessão de direitos, cessão da palavra.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A diferença entre por que, porque, por quê e porquê

Já percebi que muita gente tem dificuldade em diferenciar os porquês. Estas dicas vão facilitar a compreensão.

POR QUE
Quando houver a junção da preposição por com o pronome que. Pode ser substituído por “por qual motivo, por qual, pelo(a) qual, pelos(as) quais”.
- Por que você mentiu? / Ele quis saber por que você ainda não chegou. = por qual motivo
- Eu imagino os problemas por que você tem passado. = pelos quais
- Ela é a mulher por que vivo. = pela qual

PORQUE
É um advérbio de finalidade ou causa. Pode ser substituído por “pois, já que, na medida em que”.
- Ele não chegou porque ainda é cedo. = pois
- Não fui trabalhar porque estava doente. = já que

POR QUÊ
Sempre que a palavra que estiver no fim da frase, deve ser acentuada, independentemente do que venha antes dela.
- Ele ainda não chegou por quê?
- Ela não veio e nem disse por quê.

PORQUÊ
É um substantivo; portanto, deve ser precedido de artigo (o, os), pronome (meu, meus, seu, seus, esse, esses, aquele, aqueles, quanto, quantos etc.) ou numeral.
- Ninguém sabe o porquê dessa gritaria. = motivo, razão
- Este porquê é substantivo. / Quantos porquês existem na língua portuguesa? = nesses casos, trata-se da própria palavra