segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dar à luz um filho ou a um filho?

Aproveitando a época natalina, a liturgia do Advento traz a profecia da vinda do Salvador: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e ele será chamado Emanuel” (Is 7,14). Mas muitos insistem em dizer “dará à luz a um filho”. Ora, essa construção não tem sentido, já que falta o objeto direto, que seria “um filho”, sem a preposição “a”. Lembre-se: dar algo a alguém. Note que a preposição “a” está relacionada ao objeto indireto (no caso, à luz), e não ao direto (no caso, um filho). Para ficar mais claro, basta escrever na ordem simples: “dará um filho à luz”. O que a mãe dá não é a luz ao filho, mas o filho à luz, ou seja, ela dá à claridade da vida e do mundo exterior aquele ser que vivia no ventre materno.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Em vez de x ao invés de

Parece que hoje em dia as pessoas se esqueceram da expressão “em vez de” e usam apenas “ao invés de”, como se fossem sinônimas. Mas não são.
Invés significa “contrário”, “avesso”. Assim, “ao invés de” só será usado quando o sentido for “ao contrário de”. Nos demais casos, é mais adequado usar “em vez de”.

Exemplos:
- Ao invés de abrir a janela, fechou-a.
- Vire à esquerda ao invés da direita.
- Faça sua parte, em vez de ficar reclamando!
- Ao invés de se alegrar com a notícia, ela chorou de tristeza.
- Em vez de telefonar, resolvi lhe enviar uma carta.
- Fomos ao parque em vez de irmos ao shopping.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Onde x aonde

ONDE = lugar em que / em que (lugar). Indica permanência, o lugar em que se está ou em que acontece algo. Complementa verbos que pedem a preposição em.
Onde você estava? – Em casa. (estar em algum lugar)
A empresa onde ele trabalhava faliu. (trabalhar em algum lugar)
Não sei onde fica essa praça. – Essa praça fica no centro da cidade. (ficar em algum lugar)

Atenção: é comum o uso inadequado de “onde” em expressões que não indicam lugar físico. Por exemplo: “O relatório onde consta meu nome está desatualizado.” (uso correto = em que, pois relatório é um objeto, não lugar). “Houve um tempo onde eu dançava toda noite.” (uso correto = em que, pois tempo não é lugar).


AONDE = a que lugar. É a junção da preposição a + onde. Indica movimento (para/a algum lugar). Usa-se com verbos que pedem a preposição a.
Aonde você quer chegar? (chegar a algum lugar)
Você sabe aonde/para onde eles foram? (ir a/para algum lugar)
Faz dois dias que saí do hospital, aonde deverei voltar na semana que vem. (voltar a/para algum lugar)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Curiosidade: palíndromo

Palíndromo é uma palavra, frase ou verso que podem ser lidos da mesma maneira, tanto da esquerda para a direita como da direita para a esquerda. Por exemplo: ovo, osso, radar.
Seguem alguns bons palíndromos:

Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.
Anotaram a data da maratona.
A mala nada na lama.
O galo ama o lago.
Saíram o tio e oito Marias.
A torre da derrota.
Assim a aia ia à missa.
O mito é ele, Pelé é ótimo.


Alguém consegue construir um?

Seção, sessão e cessão

Essas três palavrinhas são homônimas homofónas ou imperfeitas, isto é, têm a mesma pronúncia, mas significados distintos. Veja a diferença entre elas:

SEÇÃO
Significa repartição, divisão.
- O refrigerador é vendido na seção de eletrodomésticos.
- Ele trabalha na seção de artigos esportivos de uma grande loja.


SESSÃO
É o tempo durante o qual se realiza uma atividade específica (uma reunião, um espetáculo etc.).
- Não assistimos ao filme porque perdemos a sessão das oito.
- Amanhã farei a primeira sessão de fisioterapia.


CESSÃO
É o ato de ceder.
- cessão de direitos, cessão da palavra.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A diferença entre por que, porque, por quê e porquê

Já percebi que muita gente tem dificuldade em diferenciar os porquês. Estas dicas vão facilitar a compreensão.

POR QUE
Quando houver a junção da preposição por com o pronome que. Pode ser substituído por “por qual motivo, por qual, pelo(a) qual, pelos(as) quais”.
- Por que você mentiu? / Ele quis saber por que você ainda não chegou. = por qual motivo
- Eu imagino os problemas por que você tem passado. = pelos quais
- Ela é a mulher por que vivo. = pela qual

PORQUE
É um advérbio de finalidade ou causa. Pode ser substituído por “pois, já que, na medida em que”.
- Ele não chegou porque ainda é cedo. = pois
- Não fui trabalhar porque estava doente. = já que

POR QUÊ
Sempre que a palavra que estiver no fim da frase, deve ser acentuada, independentemente do que venha antes dela.
- Ele ainda não chegou por quê?
- Ela não veio e nem disse por quê.

PORQUÊ
É um substantivo; portanto, deve ser precedido de artigo (o, os), pronome (meu, meus, seu, seus, esse, esses, aquele, aqueles, quanto, quantos etc.) ou numeral.
- Ninguém sabe o porquê dessa gritaria. = motivo, razão
- Este porquê é substantivo. / Quantos porquês existem na língua portuguesa? = nesses casos, trata-se da própria palavra

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O assustador “mesmo”

Todo mundo já deve ter lido o aviso: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
No lugar de nomes e pronomes, é indevido o uso da palavra “mesmo”, que pertence a diversas categorias gramaticais. “Mesmo” é correto quando usado nas seguintes situações:
1) como adjetivo/pronome (portanto variável), equivalente a “exato, idêntico, próprio, tal qual, em pessoa”. Exemplos:
- Sempre fui a mesma pessoa.
- Eles enfrentam os mesmos problemas.
- Eles mesmos confessaram o crime.
2) como advérbio (portanto invariável), significando “justamente, até, realmente”. Exemplos:
- Ela é mesmo muito bonita.
- Você mora aqui mesmo?
3) como conjunção concessiva, com o sentido de “apesar de, embora”. Exemplos:
- Mesmo te amando, vou embora.
- Eu não iria, mesmo querendo.
4) como substantivo (invariável, somente no masculino), com o significado de “a mesma coisa”. Exemplos:
- Infelizmente, ela fez o mesmo comigo.
- Ferir é o mesmo que machucar.
Na frase da primeira linha do post, o mais adequado é usar o pronome pessoal. “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar”, porque “o mesmo” não pode substituir um substantivo. Não convém escrever desta forma:
- Não consegui usar o telefone, porque o mesmo está quebrado. (correto: “Não consegui usar o telefone, porque [ele] está quebrado.”)
- Ontem encontrei Maria e convidei a mesma para almoçar. (correto: “Ontem encontrei Maria e a convidei para almoçar.”)
Na situação nº 4, “mesmo” funciona como substantivo, mas significando “a mesma coisa”; portanto, o uso é adequado. O problema é quando substitui um pronome (ele, ela, lhe, o/a) ou um nome. Perceba a diferença e evite o uso indevido.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Vou estar falando do gerundismo...

Seja em sala de aula, nas reuniões de empresas, nos e-mails, nos serviços de telemarketing ou no banco, há sempre alguém que “vai estar anotando seu recado”, “vai estar indo a algum lugar” ou “vai estar pagando a conta”. O gerundismo vem se propagando cada vez mais como vício de linguagem que simula formalidade.
A locução “vou estar + gerúndio”, em si, não é errada, quando adequadamente aplicada. Nas frases citadas acima, o uso da locução é inadequado por se tratar de ações pontuais, específicas. Não comunicam a ideia de uma ação ou evento duradouro, contínuo, nem simultâneo a outro. Por exemplo, é correto dizer “Vou estar dormindo quando você chegar” (indica ações simultâneas) e “Amanhã vai estar chovendo o dia todo” (indica evento duradouro).
Para comunicar ações pontuais, não cabe o gerúndio. Simplesmente se diz “Vou passar seu recado” ou “Passarei seu recado”, “Vou verificar seus dados” ou “Verificarei seus dados” etc. Essas ações serão concluídas num ato isolado; não serão duradouras.
Não se engane pensando que essa é uma forma de polidez para se relacionar; muito pelo contrário, é um vício de linguagem, o que foge totalmente à norma culta da língua.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Alguns erros comuns de ortografia

Estas são as palavras que lembro no momento e, infelizmente, ouço e leio com muita frequência:

- mendingo: o correto é mendigo.
- discursão: não se trata de um grande discurso; o correto é discussão.
- perca: o certo é perda.
- asterístico: o certo é asterisco.
- arrecardar: tem "r" sobrando aí. O correto é arrecadar.
- catéter: a palavra é oxítona; a sílaba tônica é a última (lê-se /catetér/, mas se grafa cateter).
- mussarela: essa grafia não é registrada por nenhum dicionário, nem pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Grafa-se muçarela ou mozarela (duvido que as pizzarias escreveriam assim nos cardápios!)
- impecilho: o correto é empecilho.
- pobrema/poblema: cuidado, diga problema.
- chego/trago (Eu tinha chego antes dele / Eu deveria ter trago): atenção, "chego" e "trago" são verbos conjugados no presente do indicativo. Nas frases, o correto é dizer chegado e trazido.
- excessão: o correto é exceção.
- cardaço / iorgute / largato: a grafia correta é cadarço / iogurte / lagarto
- baumilha: o certo é baunilha.

Mim não faz nada...

Um erro comum: "para mim fazer". Essa construção é errada porque antes do verbo está o sujeito, que não pode ser "mim". Deve-se usar o pronome pessoal "eu". Por exemplo, em "Traga esse livro para eu ler", o sujeito do verbo "ler" é "eu": quem vai ler o livro? Eu.
Mas, se a oração for "Traga esse livro para mim", o "mim" não funciona como sujeito, já que depois dele não há verbo no infinitivo.
Agora veja esta frase: "Foi difícil para mim receber essa notícia". Note que, nesse caso, a oração "receber essa notícia" é que funciona como sujeito do verbo "ser". O que foi difícil para mim? Receber essa notícia. Observe a inversão: "Receber essa notícia foi difícil para mim".

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Às quinze para as duas ou aos quinze para as duas?

Este é um deslize muito frequente, já que antes de horas sempre se usa "às". Para responder a esta pergunta, é preciso saber por que "às". Trata-se da junção da preposição "a" com o artigo feminino plural "as", porque "horas" é um substantivo feminino plural. Portanto, às três horas. Mas e se eu anuncio os minutos antes das horas, como no título do post? Sendo "minuto" um substantivo masculino, é necessário concordar o artigo que se junta à preposição "a". Assim, devo dizer aos quinze (minutos) para as duas (horas).

Em tempo, a forma correta para abreviar horas é 6h, sem "s" e sem ponto. Com minutos, fica 6h40min ou simplesmente 6h40, que se lê: seis horas e quarenta (minutos).

Menas pessoas ou menos pessoas?

Para começar, "menos" é um advérbio; portanto, palavra invariável (é a mesma para feminino, masculino, singular e plural). Não existe a forma "menas" para substantivos femininos. O correto é "menos", sempre: "menos coisas", "menos pessoas", "menos problemas".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Meia nervosa ou meio nervosa?

Neste caso, "meio" é um advérbio, que significa "um tanto quanto", "mais ou menos", seguido de um adjetivo (nervosa). Advérbios são invariáveis, isto é, não concordam em número e gênero com o adjetivo. Seja mulher, seja homem, o correto é sempre "meio" + adjetivo: "Hoje estou meio cansada", "Dizem que ela é meio doida".
"Meia" é um adjetivo feminino que quer dizer "metade". "Ele tomou meia garrafa de vodca", "Pedimos meia porção de batatas". Se o substantivo for masculino, usa-se "meio" (meio copo, meio prato).

Aproveitando o assunto, qual o correto? Meio-dia e meio ou meio-dia e meia?
Trata-se de dois adjetivos: o primeiro, de meio-dia, qualifica a palavra "dia" (metade do dia), que é masculina, com a qual deve concordar o adjetivo "meio". Já "meia" é feminino porque qualifica a hora (metade da hora, meia hora). Assim, o correto é meio-dia e meia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Perca ou perda de tempo?

Ouço com frequência a expressão "perca de tempo" ou "perca total". Porém, o correto é "perda", substantivo que significa privação de alguém ou de algo que se possuía. "Perca" é flexão do verbo "perder" na 1ª e 3ª pessoas do singular do presente do subjuntivo (ex.: "Você quer que esse time perca a partida?") e do imperativo (ex.: "Jamais perca a esperança!") Portanto, não se lamente mais dizendo que foi uma "perca" muito grande, mas uma "perda" muito grande.